26.10.06

Na cova dos leões (1)

É um dos melhores começos de canção que conheço: «What holds your hope together / make sure it's strong enough» (The Sound, «Winning», do magnífico álbum From the Lion’s Mouth , 1981).

No meio dos teclados obsessivos, do baixo soturno e das guitarras plangentes, Adrian Borland canta o primeiro verso e não diz «a esperança» mas «aquilo que sustenta a esperança» (aquilo que a ata, como se a esperança fosse um feixe de coisas miúdas). O verso parece interrrogativo, uma interpelação à nossa segurança, às certezas sobre o nosso estado, mas depois não é exactamente uma interrogação, vem o segundo verso e já é um aviso com quatro quintos de decepção e um quinto de cinismo (de quem já sofreu, de quem já viu o feixe e desfazer-se e com ele a esperança espalhada pelo chão).

E depois vem a palavra fatal do refrão («winning»), que alguns entendem como um triunfo da vontade. Mas notem o tom com que a palavra é cantada e repetida, tanto no original como nas versões ao vivo: sem a convicção adoentada dos voluntaristas e com o sarcasmo violento dos vencidos.

Como se a raiva da derrota fosse a única vitória dos que nunca vencem.