Elogio da insolência
Lenny Bruce foi muito importante no seu tempo, mas depois de Lenny veio George Carlin (1937-2008). O seu niilismo não embarcava na simples catalinária improvisada: tudo estava sempre primorosamente escrito. Carlin era um anarquista daqueles «contra tudo», ou antes, contra tudo o que é canónico nos Estados Unidos (consumismo, cristianismo, patriotismo, puritanismo). Em politica, mordia e não largava. As suas piadas sexuais não apostavam na libido mas no tabu. Menos demencial que Bill Hicks, Carlin foi no entanto o comediante incómodo por natureza. O autor de «Seven Words You Can Never Say on Television» (sketch que deu prisão e processo) sabia que tudo é linguagem e por isso desmontava os usos perversos da linguagem, da «obscenidade» ao eufemismo. E depois despejava com ferocidade aqueles textos torrenciais, como se estivesse a chamar a atenção de um touro.