15.10.06

O limbo

A Igreja Católica decidiu acabar definitivamente com o conceito de «limbo» (que aliás nunca foi oficialmente reconhecido). O limbo seria uma espécie de correcção à lógica absolutista de retribuição que é a salvação (o céu), a condenação (o inferno) ou a salvação depois de expiação (o purgatório).

Dante, na Divina Comédia, tinha posto no limbo os homens sábios e justos da Antiguidade. Alguns teólogos, ao longo dos séculos, teorizaram o limbo sobretudo para as crianças não baptizadas. Gente que não merecia uma coisa nem outra, gente fundamentalmente salvável mas sem a graça da salvação.

Tenho pena que o limbo tenha acabado. O limbo era uma imagem muito adequada às vidas de muitos de nós. Aqueles que têm uma existência nem paradisíaca nem infernal e que são demasiado pessimistas para acreditar que a expiação é uma salvação a prazo.

O limbo é um sítio asséptico, calafetado, minimalista. Não há cenas tenebrosas de fogo e caldeirões e tenazes, não há o esplendor e a glória, não há a esperança ao fundo do túnel.

Há uma eternidade pequenina, gelada, um sofrimento calado, as sombras das imagens e nunca mais os seus corpos.