O apóstata
Uso muito uma palavra de código: «instrutivo». Uma coisa que corre mal foi uma coisa «instrutiva». É aquela ideia conjectural de que «aprendemos» com aquilo que nos acontece. Assim, 2003 foi um ano «instrutivo» nalgumas matérias (importantes) e 2005 foi instrutivo noutras (menos importantes) [não me lembro de nada especialmente «instrutivo» em 2004]. Mas não esperava que 2006 fosse um ano tão «instrutivo» como tem sido. Mais: não esperava que fosse uma tal revelação (revelação de coisas sabidas, de coisas desconhecidas, de coisas escondidas, de coisas sublimadas). Como se no caminho para Damasco a queda do cavalo tivesse tornado um crente num ateu (em vez do contrário). Já não é uma reacção intelectual, um automatismo de defesa, mas uma espécie de conversão, aqui vista pelo lado negativo. Este é o ano em que me tornei um apóstata.