29.11.06

O terror e a vergonha

Não perguntem porquê, mas acabei por ver Massacre no Texas: O Início, prequela de um dos remakes (é isso mesmo) do célebre The Texas Chainsaw Massacre (1974), que já gerou também várias sequelas. O filme é mau e previsível: miúdas e miúdos atraentes perdidos na América profunda e retalhados por um homicida louco (neste caso, vários). É a enésima versão deste argumento, que vale pelo desempenho de um dos vilões (o veterano R. Lee Ermey) e pelo rabo fantástico de Jordana Brewster.

Eu gosto de filmes de terror, embora raramente apareça um filme de terror de que goste. Não sou é adepto desta recente tendência «gore», que nos deu coisas como Saw, Wolf Creek ou o abominável Hostel. Estou cansado de entranhas e degolamentos e amputações.

Numa crítica que li a Massacre no Texas (no site A.V. Club), é sugerido que esta vaga de representação gráfica da tortura tem causas externas: «almost as if torture had become some kind of national anxiety». Comentário seguido desta pergunta sardónica: «But that couldn’t be the case, could it?».

Os filmes de terror sempre espelharam as angústias de cada década. E se o cinema «gore» tem antecedentes consideráveis, é verdade que a tortura se tornou actualmente um assunto quase trivial, graças a Guantanamo e outros abusos mediatizados. Eu, como americanófilo que sou, sinto vergonha.