Os jardins divididos
Na adolescência tive, como quase todos os miúdos, algum fascínio por Jim Morrison. Não tanto pelo seu magnetismo animal ou pela música (sou meio alérgico ao Hammond) mas pelas letras lisérgicas como eu só conhecia em Lautréamont. Um dos pouquíssimos poemas que sei de cor é An American Prayer, que saiu numa plaquete em edição de autor em 1970 e foi depois gravado e editado postumamente num pavoroso disco com acompanhamento musical. Desse poema, nunca esqueço esta passagem, uma das mais importantes da minha vida, e que aqui traduzo:
Estão à espera de nos conduzirem
aos jardins divididos.
Sabem quão pálida, lasciva e entusiasmante
é a morte quando chega em hora estranha,
sem plano nem anúncio,
como uma convidada assustadora e muito amistosa
que levassemos para a cama?
A morte faz de nós todos anjos
e dá-nos asas onde tínhamos ombros,
suaves como as garras de um corvo.
Estão à espera de nos conduzirem
aos jardins divididos.
Sabem quão pálida, lasciva e entusiasmante
é a morte quando chega em hora estranha,
sem plano nem anúncio,
como uma convidada assustadora e muito amistosa
que levassemos para a cama?
A morte faz de nós todos anjos
e dá-nos asas onde tínhamos ombros,
suaves como as garras de um corvo.