Branca de Neve
Em Déjà Vu (Tony Scott, 2006), um acto de terrorismo é investigado com o auxílio de um programa chamado Snow White, um dispositivo de vigilância, ligado a satélites, que recupera imagens em tempo real dos últimos quatro dias. Imagens captadas de um determinado ângulo, mas que podem ser desmultiplicadas em vários outros ângulos, atravessando o espaço e os obstáculos físicos. O conceito central deste sistema é que se pode dobrar o tempo, e assim ter uma perspectiva mais rica e plural sobre as imagens do passado. Infelizmente, isso descamba num «hormhole» e em viagens no tempo, com as impossibilidades e os paradoxos do costume. É pena, porque o conceito de desmultiplicação de planos é especialmente fértil e inquietante. Já não é apenas termos a nossa vida vigiada pelas imagens captadas: é multiplicar digitalmente os pontos de vista dessas imagens, de modo que cada uma seja omnipotente na sua variedade de perspectivas. É um princípio cinematográfico (o da pluralidade dos pontos de vista) aplicado à videovigilância, embora no domínio da reconstituição virtual dos planos. E é a tese de que o passado são as imagens do passado, essas que, vistas agora, são uma forma estranha de presente. Mas o que eu gosto mais é o nome do sistema.