29.12.06

A multitude of sins (2)

Estou a ler A Multitude of Sins (2002), o terceiro livro de contos de Richard Ford, que no género já tinha publicado Rock Springs (1987) e Women With Men (1997). Associado algo jornalisticamente ao «realismo sujo», Ford não se limita a descrever as vidas banais e tristes que Raymond Carver canonizou; na sua prosa há uma fascinante análise dos acontecimentos emocionais. As emoções das personagens, sejam triviais ou terríveis, são uma coisa que lhes acontece. Um exemplo: a noção de que uma relação amorosa acabou (e de que sedimentou na memória) é um acontecimento tão real como o actos físicos. Sem as minúcias proustianas de Harold Brodkey, mas também distante da alusão hemingwayesca, Ford consegue fazer os sentimentos tão concretos como acções num enredo. E isso não tem nada a ver com sentimentalismo; pelo contrário, é a emoção elevada ao estatuto de ideia.