A ilusão da ilusão
Num extra que acompanha a edição portuguesa em DVD do fascinante The Belly of an Architect (1987), Peter Greenaway, fluente, seguro e sofisticado como sempre, explica por que razão se afastou totalmente do chamado «realismo britânico». Ele diz que o cinema tem andado entretido a contar histórias e não tem explorados outras alternativas mais interessantes. Mais interessantes e mais verdadeiras: Greenaway acha que a narrativa não existe na vida real, pelo menos com a nitidez que tem na ficção; por isso mesmo ele prefere que os seus filmes tenham como princípio de composição a pintura (a arte que nos ensinou a olhar) e como princípio de organização as classificações (números, palavras, conceitos). Greenaway contesta a arrogância dos que acham que o cinema consegue capturar a realidade. Ele considera impossível capturar a realidade num filme, e por isso o seu cinema assume conscientemente a ilusão. É porque recusa o cinema como ilusão da realidade que abraça tão euforicamente a ilusão como ilusão.