5.1.07

O sofrimento objectivo

Adquiri toda uma série de empatias baseadas em correspondências ou analogias. Assim, embora nunca me tenha metido nas drogas, consigo perceber exactamente o desespero dos drogados. E, embora seja da classe média, não me é estranha a situação do proletário sem pão na mesa. É óbvio que os motivos são muito diferentes, que eu não tenho as mesmas experiências dessas pessoas; mas o tipo de sofrimento é muito semelhante. Como se o sofrimento pudesse ser desligado das suas causas concretas e estivesse concentrado nos seus efeitos, nos esquemas mentais que desencadeia. Eu leio ou ouço drogados e proletários e nada daquilo me é estranho, ainda que as condições de vida me seja desconhecidas. Há mecanismos de sofrimento que são transversais e objectivos, e é curiosamente isso que me isola um pouco menos dos «irmãos humanos».