1.5.07

«A rejeição», de Franz Kafka

Quando encontro uma rapariga atraente e lhe peço «vem comigo» e ela continua o seu caminho em silêncio, o que ela pretende dizer é isto:

«Não és nenhum duque com um nome respeitável, não és nenhum índio Americano com ombros largos e possantes, com olhos calmos e impassivos, com a pele tisnada pelo ar das pradarias e dos rios que as atravessam, nunca foste aos grandes lagos, nem os atravessaste, seja onde for que eles existam. Portanto porque é que uma rapariga bonita como eu havia de ir contigo?».

«Esqueces que nenhum automóvel te transporta oscilando pelas ruas em potentes impulsos; não vislumbro nenhum séquito de cavalheiros de libré ao teu serviço, murmurando bençãos enquanto te seguem num semicírculo pedante; os teus seios estão bem acondicionadinhos no teu espartilho, mas as tuas ancas e coxas compensam a sua parcimónia; usas um vestido de tafetá com pregas plissadas do género dos que nos deliciavam no outono passado, e – embora uses estas roupas como quem ameaça – ainda assim não hesitas em lançar-nos um sorriso de tempos a tempos».

«Temos ambos muita razão, mas antes que fiquemos irremediavelmente persuadidos desse facto, acho melhor irmos já cada um para sua casa».


(versão PM)