6.6.07

Wooton Sims



Todos os anos há dois ou três filmes que revejo várias vezes. Não necessariamente porque encontre neles grande cinema mas porque fiquei fascinado com o texto ou com os actores.

O ano passado foi Breaking and Entering, por causa da «incomunicabilidade do casal» e da frigidez magoada de Robin Wright Penn. Este ano foi Fracture, porque é uma crítica feroz ao Direito e porque há muito tempo que não «gostava tanto de ver trabalhar» um jovem actor, Ryan Gosling.

Fracture é uma interessantíssima entomologia ética e social desse animalzinho curioso chamado «O Advogado». Não apenas examina a específica «vontade de poder» e a displicência humana que caracterizam a profissão, como introduz elementos morais disfarçados de elementos técnicos. Nomeadamente o «non bis in idem» (ou em inglês «double jeopardy»), uma das figuras jurídicas com mais possibilidades metafóricas.

Gosto especialmente da cena em que Willy (Gosling), o jovem advogado da Wooton Sims, explica que precisa de ajuda urgente, porque descobriu que Ted (Anthony Hopkins) vai assassinar a mulher. O caso é dele, Willy, e não do escritório. E Nikki (Rosamund Pike), a sua amante e patroa, responde simplesmente:

And what does this have to do with Wooton Sims?

Gosto muito da frustração raivosa mas resignada de Gosling nesse momento, do modo como deixa fechar as portas do elevador que ele mesmo estava a obstruir, selando assim o começo da sua redenção e o fim da sua relação.