Wise up
É lixado ser ex de Aimee Mann. Os seus primeiros álbuns a solo são em grande medida ajustes de contas com uma série de idiotas com quem ela andou. Depois, fez-se cronista emocional (foi nessa altura que apareceu Magnolia). Nos últimos anos, tornou-se menos arisca, optando pelas vinhetas com personagens tristes mas não desesperadas. A sua música é agridoce. Nunca «sofisticada», nunca comercialona, nunca radical, nunca banal.
Esta noite, no Coliseu dos Recreios, Aimee teve uma recepção apoteótica, embora a sala não estivesse cheia. A visita tardava, e o público mostrou o seu agrado. Aimee, altíssima e escanzelada, é um simpática fria. Mas ficou rendida ao acolhecimento. «Awesome», repetia. Parece evidente que foi Magnolia que criou o laço emotivo com as massas. Acredito que ela já esteja um bocado farta dos «popular favorites», mas não se furtou a «One» ou a «Deathly», nem uma espantosa interpretação de «Momentum» (depois de um começo em falso). Sobre «Save Me», deve dizer que nunca esperei ouvir esta canção ao vivo, depois de tudo. Quanto a «Wise Up», é o que diz o outro: sobre ãquilo que não podemos falar devemos ficar calados.
Aimee Mann cantou temas de todos os álbuns, de Whatever (1993) a The Forgotten Arm (2005). Notei especialmente «How Am I Different», «Going Through the Motions» e«Humpty Dumpty» (mas não infelizmente «The Moth»). Apesar de escrever as suas canções, ela é essencialmente uma intérprete, ou seja, não se entrega emocionalmente, não está ali para grandes catarses.
As canções, harmonicamente muito iguais, não foram nada valorizadas pela banda (excesso de teclados, baixista inexistente). Em compensação Aimee mostrou que tem voz. Não é uma voz inesquecível, mas revela uma segurança impressionante.
Gostava finalmente de lembrar o auditório que Aimee Mann tem 46 anos.
(para M., que disse sempre sempre a verdade)