O caderno verde
Já estou na rua quando dou pela falta do caderno verde. Tenho o (mau?) hábito de anotar todas as «ideias» e «projectos» no mesmo caderno. É um caderno verde flexível, com papel amarelo e um elástico. Quando dei pela falta do caderno entrei em pânico. Depois de algumas investigações na loja onde o tinha deixado, lá o encontrei. Mas naqueles minutos em que esteve desaparecido percebi a importância do caderno verde. Não se trata apenas das «ideias» e «proectos» que contém, que podem mais ou menos ser refeitos de memória; o que me assustou foi a possibilidade de ficar privado da escrita através do metonímico desaparecimento do caderno. Sem a escrita, nada tem significado. Não há nenhuma distinção entre a minha escrita e a minha vida.