A mulher de 40 (1)
O estudo de Vera Borges O Mundo do Teatro em Portugal. Profissão de actor, organizações e mercado de trabalho (Imprensa de Ciências Sociais) é hoje analisado no Público, num texto de Maria José Oliveira. Gente do teatro conta que há cada vez menos oportunidades de trabalho para as mulheres mais velhas. O que importa hoje é a imagem, a aparência, a «voragem do novo». E depois dos 40 anos, as mulheres são consideradas velhas: «Vivemos no mundo da imagem e as mulheres mais velhas, a não que ser que sejam mesmo muito mais velhas, não interessam ao teatro português».
Vale a pena transcrever o notável testemunho da actriz Maria Emília Correia:
«A palavra senior vem do latim senex, que quer dizer idoso, velho, que passou de moda. O que nos acontece, actrizes dos 60, 70 e 80 anos, é que passámos de moda, causamos enfado. O tempo destrói tudo e também a beleza, a sagacidade, a agilidade e, como em todas as outras mulheres, a pele fica sem viço, a cintura aumenta, os lábios descaiem. Mesmo que permaneçamos atentas, argutas, capazes, somos rejeitadas e as oportunidades são menores porque, obviamente, os contratadores não nos consideram lucrativas e, como é sabido, o valor maior do sistema vigente é o do negócio. O que nos acontece não difere em nada do que sucede aos outros cidadãos, homens e mulheres, com mais alguma idade: nada se lhes reserva, não somos respeitados e a vida é, por vezes, indigna. Nas peças de teatro, nos trabalhos televisivos, no cinema, as intervenções que nos são atribuídas servem de um modo geral para compor ou enquadrar enredos que sempre pertencem aos jovens, cada vez mais jovens, cada vez mais belos, cada vez mais concorrenciais e comerciais. Não penso que haja propriamente discriminação em relação ao género. O que sei é que nós, mulheres em especial, não fomos informadas de que para ser artista também era preciso saber gerir a vida e que isso era o mais difícil, porque era um território de sobrevivência atribulada. E assim ficámos vulneráveis e inseguras porque o nosso trabalho é, no fundo, considerado irrelevante e sem préstimo para esta sociedade».
Vale a pena transcrever o notável testemunho da actriz Maria Emília Correia:
«A palavra senior vem do latim senex, que quer dizer idoso, velho, que passou de moda. O que nos acontece, actrizes dos 60, 70 e 80 anos, é que passámos de moda, causamos enfado. O tempo destrói tudo e também a beleza, a sagacidade, a agilidade e, como em todas as outras mulheres, a pele fica sem viço, a cintura aumenta, os lábios descaiem. Mesmo que permaneçamos atentas, argutas, capazes, somos rejeitadas e as oportunidades são menores porque, obviamente, os contratadores não nos consideram lucrativas e, como é sabido, o valor maior do sistema vigente é o do negócio. O que nos acontece não difere em nada do que sucede aos outros cidadãos, homens e mulheres, com mais alguma idade: nada se lhes reserva, não somos respeitados e a vida é, por vezes, indigna. Nas peças de teatro, nos trabalhos televisivos, no cinema, as intervenções que nos são atribuídas servem de um modo geral para compor ou enquadrar enredos que sempre pertencem aos jovens, cada vez mais jovens, cada vez mais belos, cada vez mais concorrenciais e comerciais. Não penso que haja propriamente discriminação em relação ao género. O que sei é que nós, mulheres em especial, não fomos informadas de que para ser artista também era preciso saber gerir a vida e que isso era o mais difícil, porque era um território de sobrevivência atribulada. E assim ficámos vulneráveis e inseguras porque o nosso trabalho é, no fundo, considerado irrelevante e sem préstimo para esta sociedade».