Qual?
No mesmo dia em que revi um dos meus filmes favoritos (Le Genou de Claire, Eric Rohmer, 1970) apanhei na TV5 uma entrevista a Fabrice Luchini, então um adolescente e agora um senhor de meia idade com aspecto juvenil. A entrevista foi uma sessão de charme contínua. Mas por uma vez isso não deu em parvoíce. Como o actor é discreto acerca da sua vida pessoal, a entrevistadora tentou descobrir coisas íntimas. E ele entrou no jogo à grande: falou da relação umbilical com a mãe, dos bordéis que frequentava, do mau pai que foi e hoje já não é. Mas falou sobretudo da sua recusa do casamento. Ou mesmo da recusa da ideia de casal. Ele não gosta da necessidade que os casais têm de mostrar que são um casal, usando plurais na conversa ou presumindo a opinião um do outro. Luchini acha o casal uma coisa demonstrativa, feita para os outros, quando as relações lhe interessam para si mesmo. Além do mais, diz, não lhe agrada a noção de conjugalidade. Diz que felizmente nunca teve que ir «comprar pão». E tem uma frase genial sobre o casamento: «no casamento os dois são um: mas qual?».