A câmara clara (1)
Durante demasiado tempo, a foto minha que aparecia no Público (uma vez por ano) era sempre a mesma: um grande plano meio esquinado, comigo esgalgado, zombie, com uma barba tétrica e com dezassete vezes mais olheiras. A foto foi tirada antes do lançamento de um livro, em 2000, imediatamente depois de uma discussão com a minha namorada. Eu, que odeio discussões, estou ainda com os traços do conflito no rosto. E sempre que vejo essa foto, é nessa circunstância que penso. Mas há quem diga que nessa fotografia eu pareço «masculino». Eu acho que pareço jagunço. Mas reconheço que para as maioria das pessoas «masculino» quer dizer «jagunço».