As cartas
Deixo mails acumulados ou atrasados. Mas isso não é nada comparado com a dificuldade que tenho em manter uma correspondência postal civilizada. Recebo muito poucas cartas que não sejam convites ou contas; mas essas poucas que recebo ficam às vezes meses (meses) sem resposta. Quando recebo um mail, geralmente respondo de imediato (se deixo para depois, fica esquecido); mas uma carta é uma angústia. As cartas deixam-me paralisado. Talvez seja a história do «verba volant, scripta manent» mas, que diabo, eu em matéria de «scripta manent» não sou nada peco, e aliás já me lixei várias vezes. A questão com as cartas é trauma biográfico, só pode, das centenas de cartinhas ingenuazinhas que escrevi e estavam guardadas numa caixa que a sensatíssima mãe dela destruiu. Essas cartas são ainda hoje como que um fantasma que me impede de escrever outras cartas. A não ser que os destinatários me prometam que as vão destruir. Mas não é coisa que se peça a alguém, pois não?