As vagas que assolam
Acordei com alguém a dizer na rádio que «uma vaga de crime assola o país». Deixo a outros as mais urgentes discussões sobre segurança interna. Aqui gostava apenas de levantar duas questões linguísticas.
A primeira diz respeito a essa palavra: «assola». Desde logo, «assola» pressupõe a fatal existência do verbo «assolar», verbo cuja declinação seria mais imunda que o cavalo de Genghis Khan. Mas a questão é que nada mais «assola» senão uma «vaga de crime». O desemprego ou a o vírus Ebola «alastram» ou «grassam» (outra bela palavra); mas não «assolam». Gostava de perceber porque é que o crime (em «vaga») é o único que faz essa coisa tremenda: assola.
A segunda questão é a «vaga de crime». Porquê «vaga»? É verdade que há outras imagens marítimas, como «onda de crime» ou talvez «maré de crime». Mas curiosamente não há «maremoto de crime», nem «tornado de crime», nem mesmo «tsunami de crime», já para não falar em «terramoto de crime» ou «inundação de crime». Quando se fala de crime, há catástrofes naturais mais adequadas que outras, mesmo as que são marítimas.
O crime vem em «vagas». E em vagas que «assolam». Assim é a língua portuguesa.
A primeira diz respeito a essa palavra: «assola». Desde logo, «assola» pressupõe a fatal existência do verbo «assolar», verbo cuja declinação seria mais imunda que o cavalo de Genghis Khan. Mas a questão é que nada mais «assola» senão uma «vaga de crime». O desemprego ou a o vírus Ebola «alastram» ou «grassam» (outra bela palavra); mas não «assolam». Gostava de perceber porque é que o crime (em «vaga») é o único que faz essa coisa tremenda: assola.
A segunda questão é a «vaga de crime». Porquê «vaga»? É verdade que há outras imagens marítimas, como «onda de crime» ou talvez «maré de crime». Mas curiosamente não há «maremoto de crime», nem «tornado de crime», nem mesmo «tsunami de crime», já para não falar em «terramoto de crime» ou «inundação de crime». Quando se fala de crime, há catástrofes naturais mais adequadas que outras, mesmo as que são marítimas.
O crime vem em «vagas». E em vagas que «assolam». Assim é a língua portuguesa.