29.9.07

Do domínio da luta (2)



Num texto de 1969 chamado «Revolution and sex» (incluído na colectânea Revolutionaries, 1973), o historiador inglês Eric Hobsbawn, comunista dos quatro costados, desmonta a ideia de que há uma ligação entre os «movimentos sociais revolucionários» e a «permissividade» sexual.

Incomodado com a componente «comportamental» da New Left americana e do Maio, Hobsbawn explica que a «libertação» sexual tem uma relação muito duvidosa com a «libertação» social: «Indeed, if a rough generalization about the relation between class rule and sexual freedom is possible, it is that rulers find it convenient to encourage sexual permissiveness or laxity among their subjects if only to keep their minds off their subjection. Noboby ever imposed sexual puritanism on slaves; quite the contrary».

Hobsbawn reconhece que algumas situações de subjugação social têm uma importante componente sexual. Mas em todos esses domínios a dimensão sexual é um «sintoma» e não a doença. As doenças são o sexismo, o racismo, a censura, etc.

O historiador lembra mesmo que os grandes revolucionários tinham com frequência tendências puritanas. E aturavam com dificuldade as provocações e a vida boémia dos intelectuais engajados (v. a relação frustrante entre surrealismo e comunismo). No contexto novecentista, as derivações exaltadas do «freudismo» rapidamente esqueciam o marxismo: Reich acabou mais interessado no «orgasmo» do que na «organização» (cito).

É no entanto curioso notar que Hobsbawn ainda usa o paradigma das «massas trabalhadoras», para quem, reconhece, a «libertação sexual» não é o assunto mais premente. Mas a esquerda que vem de 1968 é essencialmente uma esquerda burguesa. Burguesa e intelectual. Uma coisa que desgosta Hobsbawn, que prefere camponeses & operários, esses que nunca reclamam «jouissance» e outras frescuras.