Do domínio da luta (1)
Chamam-me a atenção para um elemento «houellebecquiano» nos meus textos sobre a «libertação sexual» (estão nos arquivos deste mês).
Não tinha pensado nisso, mas admito que sim. Aquilo de que eu mais gosto em Michel Houellebecq é precisamente a reflexão sobre a «economia política» da sexualidade (e o que gosto menos são as enfadonhas «partouzes»).
Houellebecq expõe com grande inteligência a grande ilusão da esquerda que nasceu em 1968: a ilusão de que a sexualidade é revolucionária.
É uma ilusão porque a sexualidade só é revolucionária num contexto religioso. A únca entidade que mantinha a sexualidade reprimida no Ocidente era o cristianismo. Mas o cristianismo está praticamente afastado. E a sexualidade hoje é uma actividade como as outras, embora compulsiva e propagandeada como nenhuma outra.
Além disso, a sexualidade é agora, mais do que nunca, uma mercadoria. O capitalismo é um grande grande amigo de todas as formas de sexualidade. Desde que sejam economicamente rentáveis, como é óbvio. Um exemplo: quando o capitalismo descobriu o «pink money», o «estilo de vida» gay passou a ser promovido em grande, porque é um importante nicho de mercado (um nicho de mercado com poder de compra: os media difundem imensas imagens de gays com profissões «de sucesso», mas o electricista gay ou o motorista de autocarro gay são invisíveis).
A esquerda imaginou que o sexo é sinónimo de revolução, ou seja, de «libertação». Mas o sexo, colectivamente entendido, é sinónimo de alienação. Aliás, como veremos no próximo post, já alguém tinha explicado isso às criancinhas. E não foi um «reaccionário» como Houellebecq: foi um intelectual comunista.
(na foto, o grotesco filme de Bertolucci «The Dreamers», 2003)