1.10.07

A «aura»

Quando Walter Benjamin escreve, no famoso ensaio de 1936, que «a reprodução mecânica emancipou a obra de arte da sua dependência parasítica em relação ao ritual», passa a certidão de óbito ao que chamou a «aura».

A «aura» do objecto artístico enquanto objecto único. A «aura» enquanto estatatuto social e simbólico.

Mas nessa época a arte e o artista perdiam também outra «aura». Com poucas excepções (geralmente na «cultura de massas»), a arte deixou de ter importância social. E o artista deixou de ter influência e vassalagem. Desde aí foi sempre em queda. A arte ainda mantém um prestígio simbólico vago, os artistas ainda saltitam pelas migalhas do poder, mas é fim de festa. Acabaram-se os Victor Hugos. E acabou-se, graças aos céus, isso dos «unacknowledged legislators of the world» que Shelley atribuiu aos poetas e que tanto mal fez.

Reduzida à sua expressão mínima e às suas minorias mais ou menos tribais, a arte ganhou o estatuto mais valioso de todos: o de gloriosa inutilidade.