19.10.07

Caro Watson (1)

Até eu, que sou um ignorante científico, sei quem é James Watson. E, como toda a gente, fiquei surpreendido com as suas declarações sobre a diferença de «inteligência» entre brancos e negros. Acho estranho que alguém fale da «raças» mais inteligentes que outras. E ainda mais estranho quanto a genética, que é a área de Watson, tem demolido o conceito de «raça».

Dá-me ideia que o senhor está numa de provocação. Ou então é mesmo um bocado obnoxious, visto que disse coisas sobre os homossexuais e os gordos também altamente ofensivas.

Independentemente disso, fica uma questão melindrosa mas essencial: será que não se pode estudar um assunto apenas porque apresenta uma tese altamente polémica? Estou a pensar em matérias tão diferentes como as investigações que contestam o aquecimento global, como o «revisionismo» do Holocausto, como o estudo dos fenómenos paranormais ou a ufologia.

Menciono propositadamente o «revisionismo» porque levanta o problema mais difícil: não haverá liberdade de investigação para hipóteses chocantes? É que se uma tese for cientificamente aberrante, pode ser demolida com facilidade. Ninguém normal da cabeça acha que o Holacausto foi uma ficção e é impossível provar que foi uma ficção. Mas porquê impedir que alguém discuta o assunto?

Os comentários de James Watson, tanto quanto sei, foram apenas declarações numa entrevista. Mas lembro-me da polémica á volta do livro The Bell Curve, que estudava concretamente essas diferenças entre as «raças», e fiquei impressionado com a hostilidade com que foi recebido. Vamos hostilizar um cientista que diga que o homem nunca chegou à Lua?

Bjorn Lomborg, um homem que defende teorias heterodoxas em matéria ambiental, foi atacado com uma intolerância (incluindo ataques físicos) que eu achava incompatível com uma comunidade científica.

Ainda mais grave é a perseguição movida aos «revisionistas», que faz de uns lunáticos fascistas uns mártires da liberdade de investigação e de expressão.

James Watson disse uma coisa que intuivamente todos achamos que é um disparate. O que não significa que essa tese não posso ser estudada, e depois devidamente criticada e arrasada. É discutindo as ideias, mesmo as mais aberrantes, que se vive numa sociedade livre.