8.11.07

Diga 23

Confirmei ao vivo o que suspeitava ouvindo os álbuns: muito músculo (muito muito músculo) e pouco mais. Riffs e secção rítmica incansável não chega. Melodicamente, os Interpol são menos que triviais. E imensamente repetitivos. O clima emotivo que conseguem resulta do contraste entre a exuberância (melancólica) das guitarras e a introspecção estática de Paul Banks. Nos discos, achei interessante; ao vivo (pela segunda vez) não encontro nenhuma «verdade emocional» naquilo. Mas que se tornou um fenómeno de culto, isso é indiscutível. Sala cheia, e muita gente disposta a casar com Banks, mesmo que fosse em regime de separação de bens.

A primeira parte valeu o bilhete. Os Blonde Redhead confirmaram em palco o entusiasmo que me causou 23, especialmete o tema-título. Uma japonesa e dois gémeos italianos soa a cruzamento entre um filme porno e um filme hermético. Qualquer coisa como «The Urethra Diaries, by Peter Greenaway». Kazu Makino estava de vestidinho curto e vaporoso, pernocas ao léu. Simone e Amedeo, vestidos de igual, colete sem mangas e tudo, têm uma trunfa encaracolada e grisalha, algures entre Art Garfunkel e João Lisboa. Musicalmente, eu definia a coisa como Goldfrapp mais My Bloody Valentine. Teclados e tal, com uma sexualidade feminina um nadinha estridente, e depois wall of sound em versão moderada e estilosa. É mesmo o meu segundo disco do ano. E, nesta altura do campeonato, ninguém me vai perguntar qual é o primeiro, pois não?