29.12.07

Best of 2007: notas finais

BLOGUES
Não faço ideia o que sejam os «melhores blogues portugueses». Há simplesmente aqueles de que gosto mais e aqueles que mais leio, geralmente por causa de afinidades de gostos (que não de «opiniões»). Não li de todo blogues de temas «públicos» ou «políticos», e poucos blogues colectivos. A minha lista contém quase todos os blogues que segui com regularidade ao longo do ano de 2007, com excepção dos seis ou sete de amigos próximos e de uma ou outra novidade que fui espreitando. Os blogues do maradona e do Tiago Cavaco estão entre os meus favoritos desde o princípio das suas bloguices. Os blogues do Francisco também. Mais recentes são do Luís Miguel, do Sérgio, do Lourenço e do Tiago Galvão. O Deus criou a mulher é uma instituição de utilidade pública (ou será de solidariedade social?), e o Miguel devia poder assinar o seu blogue como «investigador», tal o tempo que passa à procura das provas da existência de Deus. O única destes blogues que descobri este ano foi o Vontade indómita, que em Nova Iorque duvida todos os dias se foi Deus ou o Diabo (ou talvez uma parceria) quem criou a mulher. O blogue do ano é naturalmente o blogue que mais vezes citou o meu crítico literário preferido, o Pastoral portuguesa, do «Rogério Casanova» ou lá como é que ele se chama.

DISCOS
Não estão aqui os Radiohead, porque espero pelo CD tradicional (à venda amanhã). Também só ontem comprei o Springsteen, que dizem que é catita. Vou certamente gostar de outra aquisição ainda por desembrulhar, uma antologia dos discos a solo de Robert Forster e Grant McLennan (Go-Betweens). Os dez mais foram fáceis de escolher. Começo pelos que fazem música que não é o meu género: os festivos Arcade Fire (que vi ao vivo), o ultra-gay Patrick Wolf («the magic position»?) e o «retro» Richard Swift, gente cujos álbuns anteriores já tinham estado nas minhas listas de outros anos. Sou reaça mas não tanto. No domínio das guitarras, gostei dos festivos The Shins (anunciados ao mundo por Natalie Portman aqui há uns anos), a surpresa Blonde Redhead (que vi ao vivo), a sôdona Kristin Hersh (com um título muito foleiro mas um belo disco), os regressados e potentíssimos Dinosaur Jr. (com Lou Barlow e tudo) e, claro, essa maravilha de lowness que é Boxer, com a secção rítmica chegada à frente e os epigramas de cão batido. A quota «autorista» é preenchida pela canadiana vivaça canadiana Feist e por Iron and Wine, um compositor de mão cheia, desta vez com mais instrumentos do que nos discos anteriores juntos. Se os EP contassem, teria de entrar também o sublime disco de covers de Bonnie Prince Billy. Decepção do ano: os discos todos dos clones de Joy Division, que até se tinham estreado benzinho. Reedição do ano: só pode ser mesmo Colossal Youth, porque não conheço nada tão elíptico assim tão colossal.

FILMES
Foi um ano pouco entusiasmante, excepto o meu abundante entusiasmo com um actor, Ryan Gosling, o melhor actor jovem do cinema americano depois de Edward Norton (e «depois» quer apenas dizer «mais novo que»). Daí o meu filme do ano, um independente bom com uma interpretação colossal: Half Nelson (também gostei de Gosling num filme curioso, Fracture, que ainda por cima ia de encontro às minhas embirrações do momento). Outro actor agora revelado: Joseph Gordon-Levitt, que já tinha apreciado em Brick e se esfalfou tranquilamente em Mysterious Skin e The Lookout. Os autores americanos estão devidamente representados: o clássico Eastwood, reflectindo sobre a guerra; o chanfrado Lynch, cujo filme não saberia defender racionalmente mas que me agarrou pelos colarinhos; Tarantino, num puro gozo narrativo trashy (e que diálogos); Fincher, num jogo arriscado de mostrar o aborrecimento de uma investigação; e Gus Van Sant, uma derivação mais abstractizante de Elephant, com câmara fluida e adolescentes with issues. O cinema europeu não esteve em grande, a meu gosto, com excepção da versão nada escandalosa de Lady Chatterley, que melhora um romance catequético; As Vidas dos Outros, sobre a RDA, com mil e um dramas éticos no rosto silencioso do entretanto falecido Ulrich Mühe (que apenas rivaliza com o inexpressivo Aurélien Recoing); e Control, que aliás me merece bastantes reservas, mas que me parece em todo o caso visualmente impecável e o melhor biopic rock desde Sid & Nancy. Finalmente, no ano da morte de Antonioni, o filme antonioniano de 2007: Climas, Nuri Bilge Ceylan, com paisagens e metáforas e incomunicabilidade e tudo. Gostava muito de ter gostado de Little Children mas não gostei. O zero mais redondo vai para a estopada new age The Fountain, que no entanto tem uma Rachel Weisz deslumbrante. E depois houve muitos DVD, um ano em grande. E uma editora nova com um catálogo magnífico: a Midas.

LIVROS