O pequeno público
Être éditeur consiste à publier des livres que les gens n’ont pas envie de lire. Isto dizia o recentemente falecido Christian Bourgois, um dos mais notáveis editores contemporâneos. É uma frase que de certeza deixará atónito um «gestor da indústria livreira», como os que agora avançam para o controlo das editoras portuguesas. Bourgois (editor de Borges, Junger, Burroughs, Gombrowicz, Perec, Pessoa, entre muitos outros) sabia que a edição era uma paixão, porque os grandes editores são desde logo leitores apaixonados. Se um editor apenas vai ao encontro dos gostos já existentes, e dos gostos fáceis e/ou maioritários, então é um comerciante de secos & molhados como qualquer outro. O editor edita para os leitores que existem mas também cria os seus leitores, através de afinidades, cumplicidades, descobertas, surpresas, apostas e ousadias. Temo que as editoras portuguesas agora «concentradas» se guiem em absoluto por um plafond mínimo de vendas (livros com menos de 4 mil leitores não ficam no catálogo) e por um seguidismo face às formulas comerciais e às modas do momento. Temo que nestas mega-editoras não haja espaço para autores que não escrevem para «o grande público». E eu gosto tanto mas tanto de escritores que escrevem para o «pequeno público».