A coragem e a cobardia
Robert Rossen e Joseph Losey foram comunistas nos anos 40. Perante o McCartismo, tiveram actuações diferentes: Rossen revelou nomes, Losey preferiu o exílio. É por isso curioso comparar dois dos seus filmes sobre a coragem e a cobardia: They Came to Cordura (Rossen, 1959) e King & Country (Losey, 1964).
King & Country é uma denúncia do patriotismo e do militarismo: um soldado deserta e o oficial que trata da sua defesa em tribunal de guerra vai compreendendo que numa carnificina (estamos em 1917) o medo é mais lúcido que a coragem; o medo é que é a verdadeira resistência. Em They Came to Cordura (estamos em 1916), um oficial que tem como incumbência observar os combate das tropas americanas contra Pancho Villa e recomendar medalhas de bravura. Acontece que os soldados «heróicos» que ele escolta de volta à base se revelam gente pouco recomendável; e que ele, embora honesto, é culpado de um acto de cobardia em batalha.
Dirk Bogarde e Gary Cooper são colossos de intensidade, um sofisticado e ambíguo, o outro sólido e estóico. Bogarde percebe que a sua defesa do desertor é uma condenação geral da guerra. Cooper toma notas abstractas sobre a «coragem» no seu caderninho, percebendo no fim que a dimensão ética não se esgota na questão da «coragem».
Curiosamente, em ambos os filmes (mais radical o de Losey, mais pessimista, o de Rossen), há a mesma ideia: a traição não é a linha divisória entre o bem e o mal; a traição redefine as noções de bem e mal.
King & Country é uma denúncia do patriotismo e do militarismo: um soldado deserta e o oficial que trata da sua defesa em tribunal de guerra vai compreendendo que numa carnificina (estamos em 1917) o medo é mais lúcido que a coragem; o medo é que é a verdadeira resistência. Em They Came to Cordura (estamos em 1916), um oficial que tem como incumbência observar os combate das tropas americanas contra Pancho Villa e recomendar medalhas de bravura. Acontece que os soldados «heróicos» que ele escolta de volta à base se revelam gente pouco recomendável; e que ele, embora honesto, é culpado de um acto de cobardia em batalha.
Dirk Bogarde e Gary Cooper são colossos de intensidade, um sofisticado e ambíguo, o outro sólido e estóico. Bogarde percebe que a sua defesa do desertor é uma condenação geral da guerra. Cooper toma notas abstractas sobre a «coragem» no seu caderninho, percebendo no fim que a dimensão ética não se esgota na questão da «coragem».
Curiosamente, em ambos os filmes (mais radical o de Losey, mais pessimista, o de Rossen), há a mesma ideia: a traição não é a linha divisória entre o bem e o mal; a traição redefine as noções de bem e mal.