21.4.08

A desobediência

Rudolph Giuliani comungou. Numa missa celebrada pelo Papa na catedral de St. Patrick, em Nova Iorque, o antigo mayor da cidade, duas vezes divorciado, quebrou as regras que afastam do sacramento da comunhão os divorciados recasados.

A decisão de comungar é, em qualquer caso, uma escolha individual; uma questão de consciência de cada católico. Não digo que Giuliani «fez bem». Ele é que sabe se fez bem. Também não defendo uma «desobediência civil» generalizada; mas sei e sinto que aquela proibição é injusta e quase ofensiva. Um divórcio é um fracasso. Um novo casamento é uma esperança. A Igreja não pode castigar quem fracasa nem quem reconstitui a esperança.

Este castigo é especialmente grave para um católico: afasta-se o crente do único acto da missa que tem uma dimensão especificamente transcendente. Sem a comunhão, a eucaristia é um ritual de leitura comentada e oração; mas com a comunhão, a eucaristia é um acto radical que separa os crentes dos não-crentes. Um acto que pela sua natureza afasta os agnósticos e os crentes que não se sentem dignos de receber a hóstia. Giuliani achou que era digno. Nenhum de nós sabe se ele tem razão.

É admissível que se exclua alguém da comunhão por causa de actos gravíssimos e incomuns. Mas voltar a casar depois de um divórcio é um acto comum e nada censurável. A proibição da Igreja tresanda a «lei iníqua».

Giuliani, não importa se por fé ou política, infringiu a lei. E o padre que o viu à frente não lhe recusou a hóstia. Dada a notoriedade de Giuliani, o acto apareceu em todas em notícias. Imagino que muitos estranhem tal bizantinice. Eu acho que foi um momento interessantíssimo na história cultural do cristianismo.