Rock 'n Roll (1)
Rock ‘n' Roll não é cativante apenas pelos aspectos mais imediatistas: o rock como oposição ao comunismo e o intelectual ocidental comunista vs o intelectual de Leste oposicionista; esses elementos estruturam a peça como «comédia histórica» (contemporânea), mas há outros que constituem a «comédia de ideias» propriamente dita. Eu diria que são 3:
1) A fidelidade do professor de Cambridge ao comunismo como ideia, apesar das suas vicissitudes concretas
2) os debates entre a oposição checa, ecoando textos de Havel e as opiniões heterodoxas de Kundera sobre o «exibicionismo moral» da oposição organizada
3) os «anos 60» como uma espécie de plataforma móvel entre o socialismo (contestado na sua vertente burocrática e repressiva) e o capitalismo (cujos valores burgueses são apupados).
Tom Stoppard dá ao professor, Max, uma dignidade combativa que impede que a peça se torne num panfleto «anti-comunista»: ele pode ter estado enganado toda a vida (como lhe diz o genro), mas havia nisso alguma consistência ideológica e ética (à mistura com uma cegueira voluntária).
As querelas oposicionistas, por seu lado, embora pareçam mais próximas de Havel (de quem Stoppard é amigo), não deixam de notar as contradições inerentes a uma «oposição oficial», que se revela talvez menos eficaz que a simples atitude de indiferença agressiva.
Finalmente, a contestação das juventudes ocidentais (e, na medida do possível, das juventudes de Leste) evidencia um movimento sociológico global que em última análise se acomoda melhor ao capitalismo (onde a marginalidade é culturalmente integrada) do que a uma ditadura (onde a marginalidade é vista como ofensiva e parasitária).
Rock ‘n' Roll também se podia chamar «Anos Sessenta» porque discute uma polémica cara a Max: em que medida é que a consciência individual influencia a consciência colectiva? Que um tema tão abstracto se torne assim vivido e divertido, eis o grande triunfo de Tom Stoppard.
1) A fidelidade do professor de Cambridge ao comunismo como ideia, apesar das suas vicissitudes concretas
2) os debates entre a oposição checa, ecoando textos de Havel e as opiniões heterodoxas de Kundera sobre o «exibicionismo moral» da oposição organizada
3) os «anos 60» como uma espécie de plataforma móvel entre o socialismo (contestado na sua vertente burocrática e repressiva) e o capitalismo (cujos valores burgueses são apupados).
Tom Stoppard dá ao professor, Max, uma dignidade combativa que impede que a peça se torne num panfleto «anti-comunista»: ele pode ter estado enganado toda a vida (como lhe diz o genro), mas havia nisso alguma consistência ideológica e ética (à mistura com uma cegueira voluntária).
As querelas oposicionistas, por seu lado, embora pareçam mais próximas de Havel (de quem Stoppard é amigo), não deixam de notar as contradições inerentes a uma «oposição oficial», que se revela talvez menos eficaz que a simples atitude de indiferença agressiva.
Finalmente, a contestação das juventudes ocidentais (e, na medida do possível, das juventudes de Leste) evidencia um movimento sociológico global que em última análise se acomoda melhor ao capitalismo (onde a marginalidade é culturalmente integrada) do que a uma ditadura (onde a marginalidade é vista como ofensiva e parasitária).
Rock ‘n' Roll também se podia chamar «Anos Sessenta» porque discute uma polémica cara a Max: em que medida é que a consciência individual influencia a consciência colectiva? Que um tema tão abstracto se torne assim vivido e divertido, eis o grande triunfo de Tom Stoppard.