3.4.08

Rock 'n' Roll (2)

Vi Rock ‘n' Roll há dois anos em Londres, no Duke of York’s Theatre, com encenação de Trevor Nunn, e ontem, em Lisboa, no Teatro Aberto, com encenação de João Lourenço. A versão portuguesa é muito semelhante à inglesa, com a novidade de ter imagens dos Plastic People of the Universe (a banda checa dos anos 60) que Lourenço desencantou em Praga. Mas notei duas grandes diferenças. Uma tem a ver com os actores. Beatriz Batarda e Paulo Pires estão muito próximos do registo de Emma Fielding e Dominic West que vi em Londres, talvez porque sejam duas personagens mais humanas. Em contrapartida, a interpretação de Rui Mendes é muito diferente da versão tumultuosa de David Calder (e imagino, da de Brian Cox na estreia). O Max londrino era colérico e sardónico, enquanto o Max lisboeta é zangado e irónico. João Lourenço explica, com graça, que os comunistas portugueses não são coléricos, e quis dar uma imagem que nós reconhecêssemos mais facilmente. É bem pensado.

A segunda grande diferença foi a reacção do público. No Duke of York, houve gargalhadas constantes, e nunca esteve em dúvida que se tratava de uma comédia. Aqui, risos esporádicos. Claro que o texto tem bastantes referências locais e jogos de palavras que se perdem na tradução, mas suponho que a questão tem a ver com uma atitude inglesa mais descontraída face ao comunismo, que em Inglaterra nunca teve quase vinte por cento (como nas nossas eleições de 1979) e que portanto pode ser discutido com menos pathos.

Se tiverem que escolher uma peça em cartaz, sugiro esta. It's only rock 'n' roll, but I like it.