A segunda queda
Há sessenta anos, a 18 de Abril de 1948, enfrentaram-se nas eleições italianas os conservadores da Democracia Cristã e a esquerda unida na Frente Democrática Popular, liderada pelo Partido Comunista. Todos perceberam o que estava em causa: a primeira grande batalha eleitoral da Guerra Fria. Os americanos apoiavam a DC e a FDP tinha o apoio soviético. O Vaticano fez um apelo inédito e quase patético. A campanha foi violentíssima em palavras e actos. Votos contados, a DC teve à volta de 48% e a coligação de esquerda cerca de 31%.
O partido comunista italiano teve uma intensa actividade desde os anos 20, contou com grandes figuras (como Gramsci), sobreviveu ao fascismo e durante décadas dominou os sindicatos e os meios intelectuais. Em 1976, um PCI já em rota de colisão com a URSS ainda conquistava (sozinho) mais de 35% dos votos. A queda do bloco socialista não destruiu o PC; houve debates sobre «o nome e a coisa», mudanças de símbolo, cisões, cedências. Os pós-comunistas do PDS tornaram-se em pouco tempo esquerda «mainstream», a Refundação Comunista e os comunistas ortodoxos fizeram parte de governos de coligação. Em 2006, um comunista foi eleito presidente da Câmara dos Deputados e um (ex?)comunista foi eleito presidente da República.
Este domingo, 13 de Abril de 2008, uma nova coligação entre comunistas e verdes (Sinistra Arcobaleno) teve resultados eleitorais na casa dos 3%, abaixo do mínimo necessário para eleger deputados ou senadores. O parlamento italiano não tem hoje nenhum comunista, um resultado tão impensável e espantoso como a própria queda do comunismo soviético.