5.5.08

Política



Ricky Gervais não é um sujeito especialmente politizado. Em algumas entrevistas assume o seu ateísmo e a defesa dos «direitos dos animais», e chega. Também não é exactamente uma agenda «reaccionária». Como se explica então que o volume 2 do seu espectáculo a solo, Politics, esteja cheio de piadas reaças? Exemplos: farpas a Gandhi e aos seus «óculos do National Health Service», farpas à mudança da «idade do consentimento» gay («não vi ninguém de 16 anos nessa marcha»), farpas a John Lennon e a esse acto de «resistência» que consiste em ficar na cama. Em certos momentos vemos que Gervais choca a plateia, porque a plateia tem alguns valores «de esquerda» como os valores decentes. Se o Ocidente «virou à direita» desde a queda do bloco soviético, os objectos de hagiografia (Che) e escárnio (a religião) ainda são em grande medida ditados pela esquerda. É uma vaga noção de «sentido da História» que sobreviveu e não creio que alguma vez se extinga. Daí que seja aliciante fazer humor «de direita» (mesmo quando não se é de direita): porque isso choca muita gente. E o humor que não choca ninguém não vale nada.