12.5.08

A coisa amada

É evidente que às vezes os imagino na cama. Não se transforma o amador na cousa amada, mas transformo o que dela sei e imagino, tudo o que eu disse e nem tive tempo de dizer mais, agora em lábios que ela deseja, os pequenos abandonos controlados dela, geografias que conheço. Por virtude do muito imaginar vejo o corpo dela, entre sombras e lençóis, e o corpo dele, mais destapado, digno de, aquilo que o meu corpo deseja também desejam eles os dois em uníssono, eu imaginando e eles transformados, duas pernas no meio de duas, uma pressão no ombro, o fôlego contagioso. E nessa imaginação estou transformado. Por virtude daquele corpo que ela recebe sem defesas vejo uma justiça feita com sombras e lençóis, matéria material, e eu imaginando o que imaginei, e transformado não na cousa amada mas em simples cousa. Imaginando e transformado em coisa.