«Eles»
David Mamet nasceu em 1947, em Chicago, numa família judaica. Fundador da Atlantic Theater Company, tornou-se conhecido com The Duck Variations (1972), Sexual Perversity in Chicago (1974) e American Buffalo (1975). Essas três peças têm a mesma matriz: enredos minimais centrados em diálogos bruscos e obscenos entre homens (Mamet tem o melhor ouvido do teatro americano). Sexual Perversity e The Woods (1977) são textos sobre a «masculinidade» e a sexualidade nas sociedades actuais; mas Mamet sempre teve também uma costela mais especificamente «política»: em American Buffalo os pequenos criminosos não passavam da fase de discussão dos seus pequenos crimes, esquema aperfeiçoado em Glengarry Glen Ross (1984), que ganhou o Pulitzer, e que segue as conspirações de agentes imobiliários corruptos, e em Speed-the-Plow (1988), com dois produtores de Hollywood que discutem a arte & o sucesso. Todos eles congeminam os mesmos esquemas fraudulentos e soltam as mesmas frases ofensivas. Essa veia mais polémica atingiu o auge com uma peça sobre o assédio sexual, Oleanna (1992), odiada pelas feministas. Algumas peças mais recentes apostam numa maior complexidade narrativa e em mudanças do esquema básico: Cryptogram (1995) passa-se nos anos 1950 e Boston Marriage (1999) é uma história de mulheres. Mas há muito que David Mamet já não é apenas um dramaturgo.
Na verdade, desde 1981 (O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes) que ele trabalha como argumentista, muitas vezes para ganhar dinheiro que financie projectos pessoas. Colaborou na versão cinematográfica de várias peças suas (como o inferno sexual de Edmond, baseado num texto de 1982) e também se tornou um cineasta de dramas labirínticos, uma carreira prolífica que começou com os vigaristas de House of Games (1987) e cujo último capítulo é um drama de artes marciais, Redbelt (2008). Escreveu ainda três romances, pequenos ensaios, textos sobre o anti-semitismo e contra o Método. Teve uma série de televisão (The Unit) e colabora no blogue de celebridades The Huffington Post. A preguiça não é um dos seus defeitos.
Politicamente, tem sido uma caixinha de surpresas. Depois de uma sátira ao bushismo (November, 2007), escreveu um artigo no esquerdista Village Voice dizendo que já não é um «brain-dead liberal» (sic) como noutros tempos. Ainda não se percebeu bem o que é agora. “Liberal” ou não, Mamet sempre teve (e mantém) uma visão crítica dos mecanismos sociais e económicos do capitalismo, como víamos já em Um Conto Americano / The Water Engine (1977), que agora estreia em Lisboa. The Water Engine nasceu como peça radiofónica e em 1978 chegou à Broadway, juntamente com um monólogo afim (Mr. Happiness). A personagem principal da peça é Charles Lang, que inventou um motor que trabalha a água. Quando tenta registar a patente da sua criação, cai nas malhas de dois advogados mafiosos que não olham a meios para se apropriarem daquela máquina revolucionária. Num texto chamado “Concerning ‘The Water Engine’” (recolhido na colectânea A Whore’s Profession, 1994), Mamet explica que entre os mitos mais frequentes está a ideia de que «eles» 0 suprimem por todos os meios as ideias que beneficiam o cidadão comum. Quem são «eles»? São o Governo, as Grandes Empresas, enfim, as instituições, esses colectivos que Mamet acha que levam sempre a uma grande amoralidade. Para acentuar a perversidade do «sistema», a acção de The Water Engine decorre durante a Grande Depressão, quando o American Dream era tudo menos um sonho.
(no Ipsilon de hoje)
Na verdade, desde 1981 (O Carteiro Toca Sempre Duas Vezes) que ele trabalha como argumentista, muitas vezes para ganhar dinheiro que financie projectos pessoas. Colaborou na versão cinematográfica de várias peças suas (como o inferno sexual de Edmond, baseado num texto de 1982) e também se tornou um cineasta de dramas labirínticos, uma carreira prolífica que começou com os vigaristas de House of Games (1987) e cujo último capítulo é um drama de artes marciais, Redbelt (2008). Escreveu ainda três romances, pequenos ensaios, textos sobre o anti-semitismo e contra o Método. Teve uma série de televisão (The Unit) e colabora no blogue de celebridades The Huffington Post. A preguiça não é um dos seus defeitos.
Politicamente, tem sido uma caixinha de surpresas. Depois de uma sátira ao bushismo (November, 2007), escreveu um artigo no esquerdista Village Voice dizendo que já não é um «brain-dead liberal» (sic) como noutros tempos. Ainda não se percebeu bem o que é agora. “Liberal” ou não, Mamet sempre teve (e mantém) uma visão crítica dos mecanismos sociais e económicos do capitalismo, como víamos já em Um Conto Americano / The Water Engine (1977), que agora estreia em Lisboa. The Water Engine nasceu como peça radiofónica e em 1978 chegou à Broadway, juntamente com um monólogo afim (Mr. Happiness). A personagem principal da peça é Charles Lang, que inventou um motor que trabalha a água. Quando tenta registar a patente da sua criação, cai nas malhas de dois advogados mafiosos que não olham a meios para se apropriarem daquela máquina revolucionária. Num texto chamado “Concerning ‘The Water Engine’” (recolhido na colectânea A Whore’s Profession, 1994), Mamet explica que entre os mitos mais frequentes está a ideia de que «eles» 0 suprimem por todos os meios as ideias que beneficiam o cidadão comum. Quem são «eles»? São o Governo, as Grandes Empresas, enfim, as instituições, esses colectivos que Mamet acha que levam sempre a uma grande amoralidade. Para acentuar a perversidade do «sistema», a acção de The Water Engine decorre durante a Grande Depressão, quando o American Dream era tudo menos um sonho.
(no Ipsilon de hoje)