17.5.08

O Acordo

O Acordo Ortográfico de 1990 foi ontem oficialmente adoptado em Portugal. Estive contra e continuo contra. Os apologistas do Acordo invocam uma plêiade de argumentos pragmáticos (alguns deles respeitáveis), mas não encontrei motivos realmente culturais para mexer na ortografia do português. E eu não subscrevo as críticas «nacionalistas» ou «económicas» ao Acordo: sou adversário do Acordo apenas por razões culturais: não concordo que se abandone a etimologia em favor da fonética. É uma machadada na história da língua e mais um passo no abastardamento da linguagem. Agora tudo vai sendo legítimo «desde que se perceba».

Sou contra o Acordo como fui contra a TLEBS e como achei discutíveis algumas decisões do Dicionário da Academia. Se não somos exigentes com a língua não somos exigentes com nada. O Acordo pode vir a ter alguma utilidade prática, mas não contribui para uma política da língua portuguesa. Quem acha que a política se faz com decretos ficou naturalmente contentinho com este Acordo. Mas uma verdadeira política da língua não depende de medidas fáceis e superficiais como um Acordo Ortográfico: precisa de medidas urgentes e difíceis como um currículo decente nas Humanidades, uma edição acessível e cuidada dos clássicos, uma promoção empenhada da cultura portuguesa no estrangeiro, uma atenção aos leitorados desamparados, tudo isso que custa esforço e dinheiro e não se faz com umas simples assinaturas.