Suco de laranja
Estive dois dias acamado e aproveitei para espreitar telefilmes e telenovelas, coisa que não fazia há muito. As novelas têm a graça de apresentar a vida quotidiana como uma sucessão de clichés em primeiro grau e têm a desgraça de condenar actores interessantes a textos indigentes. Os telefilmes exibem aquela mistura de voyeurismo e moralismo típica da imprensa tablóide e um culto do «kitsch» em grande estilo. Em ambos os casos vemos quase o todo tempo uma classe média-alta de papelão, imediatamente sinalizada pela gravata de seda, as amantes com belas omoplatas e o sumo de laranja com o café da manhã. Só que as novelas, talvez por influência da tradição pedagógica brasileira, levam-se demasiado a sério, julgam que dizem coisas relevantes sobre a sociedade em que vivemos, estão convencidas do seu «realismo» documental. Enquanto os telefilmes são série Z assumida, tão descabelados como fitas de vampiros ou um peplum, sobretudo quando relatam em 90 minutos a «ascensão e queda» de oportunistas ou putéfias, com música intrumental e coda moral e tudo. Não é mau para quem está de cama e ainda não conseguiu ler o Littell.