18.8.08

Alexander Soljenitsine 1918-2008

Koestler e outros já tinham estilhaçado o silêncio cúmplice do Ocidente, mas nada se compara com O Arquipélago do Gulag (1974). Soljenitsine iniciou a sua denúncia do universo concentracionário em 1962, com Um Dia na Vida de Ivan Denisovich [que nunca li], e com os romances seguintes chegou ao Nobel em 1970. Ficou mundialmente célebre. Sartre atacou-o porque, já se sabe, «um anticomunista é um cão». O Arquipélago, vasta descrição da barbárie soviética, é o cume do seu trabalho de testemunha qualificada. Incrivelmente corajoso e determinado, Soljenitsine viveu a fundo a tragédia comunista e passou o que viveu para o papel, em grossos tomos de prosa torrencial. Literiamente prefiro sem dúvida a família tchekhoviana às odisseias tributárias de Tolstoi; politicamente, gosto mais de dissidentes cosmopolitas como Havel do que de reaccionários eslavos; mas isso agora importa pouco. Soljenitsine foi um resistente que se exprimiu através da literatura, e é o elogio político que se impõe na sua morte. Depois de Soljenitsine, tudo mudou. A defesa do comunismo tornou-se em definitivo um ensaio sobre a cegueira.