30.8.08

O aspecto físico



Reasons to Be Pretty (2008) concluiu uma trilogia iniciada com The Shape of Things (2001) e prosseguida com Fat Pig (2004). Nestas três peças, Neil LaBute escreveu sobre o «mito da beleza» e, mais concretamente, sobre a influência do aspecto físico nas nossas vidas. Em The Shape of Things, uma estudante de artes modifica completamente o aspecto de um rapaz por quem supostamente se apaixonou, revelando no fim que toda aquela transformação foi apenas um trabalho de fim de curso. Em Fat Pig, um yuppie atraente inicia uma relação secreta com uma mulher muito gorda, relação que não consegue manter porque tem vergonha que os colegas descubram. Reasons to Be Pretty começa quando um rapaz comenta desfavoravelmente a beleza da sua namorada em comparação com outra rapariga. A trilogia tem a virtude de quase todos os textos de LaBute: fala de temas incómodos com uma sinceridade radical e uma linguagem demótica bem calibrada. E tem também alguns defeitos típicos: um gosto demasiado pueril pelo choque gratuito, uma escrita com pouca espessura e sobretudo um moralismo intragável. Os prefácios de LaBute, tributários dos prefácios de Shaw, explicam a intenção moral do texto e tornam as peças muito menos interessantes. No caso da trilogia, é produtivo mostrar cruamente como o aspecto físico condiciona o sucesso social ou o equilíbrio emocional. Mas isso é incompatível com um discurso banal sobre a «superficialidade» de uma sociedade que vive «obcecada» com o aspecto físico. É uma abordagem pedestre ao assunto, que ainda por cima ignora completamente o avanço civilizacional que é o culto da beleza. Ao querer expor uma verdade incómoda (e ainda negada por muita gente), LaBute chama a essa verdade uma ilusão. Mas a ditadura do «aspecto físico» não é verdadeiramente uma ilusão. É, digamos, uma crueldade civilizada. Uma ilusão seria supor que eliminando o «preconceito» estético viveríamos vidas morais mais puras. O culto das «aparências» é uma construção, mas diz ao que vem. O culto das «essências» é pior, porque traz vestes de uma integridade ética estulta e espúria.