The Real Thing
Cheguei finalmente à peça «emotiva» e «autobiográfica» de Tom Stoppard, The Real Thing (1982). Fiquei decepcionado. Esperava um nadinha que fosse de sangue, suor e lágrimas. Falso alarme. The Real Thing é uma (excelente) comédia de boulevard com adultério e tudo, recheada de aforismos espertíssimos e jogos intertextuais meta-teatrais, mas não tem coragem para ir mais longe. Stoppard quis contrariar a imagem do «clever Tom», o malabarista das ideias incapaz de escrever sobre emoções. Mas o que a peça tem de engenhoso são precisamente as ideias. O que é afinal «the real thing»: é o casamento ou os casos passageiros? é a relação actual ou a última? é a escrita cerebral ou a militante? é a música erudita ou os Monkees? é a escrita ou a vida? Esse debate é muitíssimo bem explicitado , mas é ainda um jogo intelectual. Quando o propósito de Stoppard era escrever sobre «a dificuldade de escrever sobre o amor». Talvez ele prove essa dificuldade tendo ele mesmo dificuldade. O protagonista, um dramaturgo culto e genial, fica sem palavras quando é traído. E isso, sendo uma ideia lúcida e lucidamente autocrítica, não chega. Para escrever sobre o amor é precisamente ser prodigiosamente feliz como Marivaux ou repulsivamente infeliz como Strindberg. O meio caminho não é uma opção.