31.8.08

Señor



«Señor (Tales Of Yankee Power)», do álbum Street Legal, 1978, é Bob Dylan típico. Esta narrativa «mexicana» elíptica pode ser uma peregrinação em busca de uma mulher esquiva; pode ser uma crítica à arrogância imperial americana; e pode ser um lamento religioso. Que uma canção seja amorosa, política e religiosa, eis o que une Dylan a Cohen. Pessoalmente, aposto na abordagem religiosa. Street Legal é o último disco antes da conversão de Dylan, e aquilo que os álbuns seguintes trazem em fervor é nesta canção ainda dúvida e angústia protestante: O que é a verdade? Estaremos prontos para o momento decisivo? Quem é o nosso contacto? Onde está o nosso conforto? Tudo isso no modo interrogativo, jogando com a ambiguidade desse «señor» que em inglês se traduz laicamente por «mister» ou religiosamente por «Lord». O interlocutor «estrangeiro» que a cada passo interroga as nossas certezas e aprofunda as nossas incertezas termina com um apelo à desistência: «Señor, señor, let's overturn these tables, / Disconnect these cables. / This place don't make sense to me no more. / Can you tell me what we're waiting for, señor?». Mas Dylan sabe que basta uma resposta a esta última pergunta e tudo ganha um novo sentido.