8.9.08

Acho que percebem porquê

Gente imóvel que se movimenta apenas no «campo da memória» e cuja consciência se desdobra em várias vozes, se repete, se escrutina, se martiriza, numa coreografia elegante e num ritmo poético inpecável. É isso que eu gosto no teatro de Beckett, especialmente nas peças curtas. É isso que gosto no jogo do senhor e do escravo em Endgame, no passado revisto e comentado em Krapp, nas audições para um adultério em Play, nas três coscuvilheiras em Come and Go, na boca que engole toda a narrativa em Not I, naquilo que Amy viu em Footfalls, na velhice amarga em Rockaby, nas várias versões de uma história em Ohio Impromptu e no torturador que se tortura a si mesmo em What Where. Gente que se desdobra, se repete, se escrutina, se martiriza. Acho que percebem porquê.