30.9.08

O falso cerebral

Nunca tinha lido com atenção a obra ensaística de Pavese, que comprei em Itália há uns anos (La letteratura americana e altri saggi, 1951). Li agora. E confirmei que não é a sua faceta mais memorável. Os ensaios sobre literatura americana são importantes e empenhados, mas o original (Matthiessen) vale mais que o seu discípulo. Os ensaios sobre o mito parecem redundantes face aos Diálogos com Leucó. E os ensaios políticos têm pouco interesse, entre profissões de fé apressadas e discussões com os jdanovistas (que naturalmente censuravam as «ruminações egotistas»). Mas esta leitura cimentou uma ideia que eu tinha de Pavese: a de que é um falso cerebral, que «resolve» intelectualmente problemas essencialmente emocionais. E quem resolve intelectualmente problemas emocionais está envolvido na mais ingrata das tarefas: a auto-justificação.