Cesare Pavese (n. 9 Setembro 1908 - m. 27 Agosto 1950)
9 de Setembro [de 1939]
A guerra transforma os indivíduos em bárbaros porque, para a fazer, é necessário um endurecimento contra todo o lamento e afeição a valores delicados, é preciso viver como se estes valores não existissem; e, uma vez terminada, perdeu-se a elasticidade para a eles regressar.
9 de Setembro [de 1940]
Vejo a cena. Ela, volúvel, foge sempre à companhia; levanta-se da mesa, interrompe as conversas, vai ao telefone, etc., e, a quem lhe recorda os seus deveres, responde: «A culpa é tua, que não sabes interessar-me e fazer-me estar sentada».
Semelhante resposta pressupõe um endurecimento interior da adolescência, porque subentende que as coisas teriam podido correr de maneira diferente se o companheiro tivesse sido diferente. Equívoco que se faz quando se é adolescente, mas não mais tarde, quando se compreedeu que, aconteça o que acontecer, é sempre nossa a culpa.
9 de Setembro [de 1946]
Pensa mal das pessoas, não te enganarás.
As mulheres são um povo inimigo, como o povo alemão.
Tem-se piedade de toda a gente - excepto dos que se aborrecem. E, no entanto, o tédio é considerado pena maior e o código ameaça-os com ela - a prisão.
[Já não houve entrada a 9 de Setembro de 1950]
(excertos de Il mestiere di vivere, 1952, edição port. Ofício de Viver, trad. Margarida Periquito, Relógio D'Água)
(imagens de Pavese no La Repubblica)