E terá os teus olhos
Cesare Pavese nasceu há um século, a 9 de Setembro de 1908. E ainda hoje é impossível distinguir os seus livros e a sua vida. A angústia que se exprime naqueles romances pausados e brutais, naqueles contos suaves e desesperados, naqueles poemas narrativos ou estilhaçados, é uma angústia que traduz experiências vividas com uma intensidade feroz que não se esquece.
Pavese nasceu no campo e foi educado na cidade. Viveu fascinado pela terra e os camponeses, ao mesmo tempo que cultivava uma intensa ligação à vida citadina, colmeia de gente anónima entre arcadas e esplanadas. Órfão de pai na primeira infância e de mãe aos vinte e poucos, a infância é motivo recorrente nos seus textos. Desde pequeno que Cesare se revelou tímido e melancólico, e esse feitio como que justifica a lassidão entristecida das suas narrativas (às vezes rasgada por súbitas tragédias). Em matéria política sabemos que Pavese cresceu rodeado de amigos antifascistas mas sem vocação militante; já depois da guerra, sentiu uma espécie de remorso por não ter sido resistente e inscreveu-se no Partido Comunista. Sempre demonstrou grande empatia pelos operários e camponeses, nas suas dificuldades e na sua simplicidade. O campo, para Pavese, tinha aliás uma dimensão edénica. Ele dava grandes passeios ao domingo ao longo do rio Pó, nadava e remava, gostava da paisagem de colinas e vinhedos. Quando teve uma época de inquietação religiosa, viu na natureza a chave mitológica da realidade. [...]
(no Público de amanhã)
Pavese nasceu no campo e foi educado na cidade. Viveu fascinado pela terra e os camponeses, ao mesmo tempo que cultivava uma intensa ligação à vida citadina, colmeia de gente anónima entre arcadas e esplanadas. Órfão de pai na primeira infância e de mãe aos vinte e poucos, a infância é motivo recorrente nos seus textos. Desde pequeno que Cesare se revelou tímido e melancólico, e esse feitio como que justifica a lassidão entristecida das suas narrativas (às vezes rasgada por súbitas tragédias). Em matéria política sabemos que Pavese cresceu rodeado de amigos antifascistas mas sem vocação militante; já depois da guerra, sentiu uma espécie de remorso por não ter sido resistente e inscreveu-se no Partido Comunista. Sempre demonstrou grande empatia pelos operários e camponeses, nas suas dificuldades e na sua simplicidade. O campo, para Pavese, tinha aliás uma dimensão edénica. Ele dava grandes passeios ao domingo ao longo do rio Pó, nadava e remava, gostava da paisagem de colinas e vinhedos. Quando teve uma época de inquietação religiosa, viu na natureza a chave mitológica da realidade. [...]
(no Público de amanhã)