Paul Newman (1925-2008)
The Hustler (1961) é intocável, mas nos outros filmes com Paul Newman experimento sempre alguma reticência. David Thomson, numa apreciação pouco generosa, mencionou dois possíveis motivos de reserva: «porous cockiness and mumbling naturalism». Não creio que seja isso. Newman não podia escapar ao seu aspecto e ao seu treino. A beleza física imaculada e os olhos azuis magnéticos tornavam-no inevitavelmente seguro de si; e aquela facilidade artificiosa é a própria definição do Método. Aliás, segurança e frieza davam nele um inesquecível júbilo mozartiano. Talvez por isso Newman nunca tenha feito um vilão detestável (Pauline Kael: «his likableness is infectious»). Mas há um preço a pagar pelo equilíbrio, que é uma certa «aversão à intimidade» (Thomson de novo). Aversão naturalíssima num homem frio e belo, mas que eu acho um defeito num grande actor. Se lembramos (muito justamente) os seus Tennessee Williams, sobretudo Cat on a Hot Tin Roof (1958), é porque neles a beleza de Newman funciona como ecrã perfeito para as ambiguidades sugeridas. E nisso ele sempre foi bom. Homem de uma classe indiscutível, nunca falhou no estilo lacónico e irónico. Mas alguém lembrou que ele não deixou nenhuma grande cena de amor: a exposição emocional é coisa de gente frágil, e ele cultivava a distância própria do classicismo. Com excepção da morte de um filho em 1978, Newman viveu uma vida feliz e protegida dos excessos. E isso nota-se em tudo o que fez. Ao passo que ninguém imagina um Montgomery Clift feliz.