17.9.08

Viagens ao país do povo



(a propósito de uma sequência de textos do Osvaldo sobre o filme de Miguel Gomes)

O que é «o povo»? O que é «o povo» para um artista? E para que serve? Em Courts voyages au Pays du peuple (1990), Jacques Rancière estuda vários casos (Wordsworth, Büchner, Michelet, Rilke, Rossellini) e chega sempre à mesma conclusão: «o povo» é uma entidade imaginada por quem se considera estrangeiro a essa classe. Os artistas que visitam o «país do povo» carregam uma bagagem ideológica que constrói uma ideia de povo. Uma ideia que exprime necessidades pessoais do artista e que não depende de factos «etnográficos» fiáveis. Que um marxista como Rancière desvende esta verdade inconveniente é uma coisa notável.