8.9.08

Que nojo, o povo (4)

Segundo uma tradição hostil à civilização, mais velha que Spengler, acreditamo-nos superiores ao outro continente porque este só teria produzido frigoríficos e automóveis, enquanto a Alemanha teria criado a cultura espiritual. No entanto, na medida em que esta se fixa e se torna um fim em si mesma, ela também tem tendência a desligar-se da humanidade real e de bastar-se a si mesma. Ao passo que na América até no ‘keep similing’ revela simpatia, compaixão, participação na sorte dos mais fracos. A enérgica vontade de estabelecer uma sociedade livre, ao invés de apenas pensar medrosamente na liberdade e, mesmo no pensamento, rebaixá-la a uma subordinação voluntária, não deixa de ser algo de bom só porque o sistema social impõe limites à sua realização. A altivez alemã contra a América é injnsta. Só serve, por abuso do que é superior, aos instintos mais rançosos.

O filósofo (marxista) Theodor Adorno, alocução radiofónica recolhida em Stichhworte, 1969 (citado a partir da tradução brasileira, ênfase minha)