4.9.08

Que nojo, o povo

Estive até às tantas a ver em directo a convenção Republicana, com se fossem uns óscares um nadinha mais importantes. Um congresso partidário revela sempre as convicções profundas daquele eleitorado, e as convicções profundas de um eleitorado são geralmente bastante caricaturais. A trilogia «guns, babies, Jesus» da grande parte do GOP não é decerto a última palavra em «sofisticação política», e seria impensável num partido da direita «mainstream» europeia; mas a América é o que é, e os discursos dos políticos vão ao encontro das convicções e instintos básicos dos seus apaniguados. E assim tivemos discursos de Romney (hipócrita e medíocre), de Huckabee (afável e «common people») e um colossal ataque de my man Rudy a Obama («change is not a destination just as hope is not a strategy»). Quanto a Sarah Palin, confirma-se a minha suspeita: é uma escolha irresponsável como vice-presidente e uma escolha brilhante como candidata a vice-presidente. A «hockey mom» alia uma agenda conservadora estrita (guns, babies, Jesus) a uma imagem dinâmica, reformista e anti-elitista. E isso talvez signifique milhões de votos na smalltown America. A convenção exibiu a retórica própria da direita americana (patriotismo, governo reduzido, family values), mas teve também nos discursos de Huckabee e Palin uma reivindicação da representação política do povo. Um «povo» que é geralmente esnobado pela tradição patrícia que existe nos dois maiores partidos americanos, e especialmente na aristocracia «East Coast» dos Democratas. Esse foi o aspecto mais interessante da convenção: um «povo de direita» que enfrentou o crescente snobismo social de esquerda. Um snobismo que nós também temos visto nos incríveis ataques «sociais» a Cavaco.