16.9.08

Sem pensar duas vezes

Em 1962, Tina Pizzardo (1903-1989) redigiu uma autobiografia, vinda a lume apenas em 1996. Tem um título fascinante: Senza pensarci due volte. Nunca li o livro, e até há pouco tempo nem sabia da sua existência. Imagino que sejam umas «memórias antifacistas», visto que Tina foi comunista e resistente; mas acho difícil que evite o tema Pavese. E imagino se esse «senza pensarci due volte» se refere também a Pavese. Em Il mestiere de vivere, ele escreveu: «(…) tinha encontrado o caminho da salvação. Apesar de toda a fraqueza que existia em mim, aquela pessoa sabia ligar-me a uma disciplina, a um sacrifício, com a simples dádiva de si. (…) Porque, abandonado a mim próprio, já o sei por experiência, tenho a certeza de não vencer. Unido a ela, numa só carne e num só destino, conseguiria, tenho a certeza absoluta. Até mesmo por causa da minha cobardia: a meu lado, essa mulher teria sido um imperativo. // Em vez disso, o que ela fez! Talvez não o saiba, ou, se o sabe, não lhe interessa. E é justo, porque ela é ela e tem o seu passado que lhe traça o futuro» (itálico meu). Acho que seria mais criticável se ela tivesse «pensado duas vezes» só porque Pavese morreu e se tornou famoso. O «talvez não saiba ou talvez não lhe interesse» que ele temia é ainda assim mais digno que o oportunismo sentimental.