Fascinante fascismo
Jörg Haider, o carismático líder nacionalista austríaco, tinha um amante, um jornalista especializado em cosméticos (isto não se inventa). No dia em que morreu, parece que se tinha zangado com ele, e foi embebedar-se para um bar gay da Caríntia. Resultado: excesso de velocidade, condução perigosa e despiste fatal.
O amante foi então eleito sucessor de Haider no partido nacionalista, e não se lembrou de mais nada senão fazer o outing póstumo do político, a quem chamou «o homem da minha vida». Os «nacionalistas» lá da Áustria é que gostaram pouco da novela, e correram com o senhor da presidência, uma semana depois de o terem eleito.
Não há nada de espantoso nesta história, nem sequer a «hipocrisia». Haider pertence a uma família política (e a uma tradição cultural) que sempre valorizou a força, a violência e a «vontade de poder». Não admira que quem faz política com essa bagagem acabe num culto exacerbado da «masculinidade» que naturalmente não pára à porta do quarto.
Susan Sontag, num famoso ensaio sobre o «fascinante fascismo», analisou com perspicácia as componentes homossexuais dos fascismos, sobretudo ligadas à parafernália bélica. Sabemos que alguns nazis famosos eram gays, caso de Ernst Röhm, líder das SA. E ninguém ignora o fascínio exercido pelos jovens soldados arianos em gente como Genet (um militante de esquerda) ou Tom of Finland.
Claro que os nazis perseguiram os homossexuais e que oficialmente os fascistas abominam a homossexualidade como «estilo de vida». Mas há um culto viril nas teorias fascistas que está a um passo da adoração do masculino. E adorar o masculino de modo assexuado parece difícil.
Agora que os tempos são mais abertos, aparece gente como Pim Fortuyn, assumidíssimo e promíscuo, e Haider, ambíguo e não muito cauteloso. Mas sempre conheci fascistas que convivem bem com a homossexualidade, desde que não se use essa palavra. Há uma personagem (ultraconservadora) de uma peça de Tony Kushner que explica: «I’m a heterosexual man who fucks around with guys».
O amante foi então eleito sucessor de Haider no partido nacionalista, e não se lembrou de mais nada senão fazer o outing póstumo do político, a quem chamou «o homem da minha vida». Os «nacionalistas» lá da Áustria é que gostaram pouco da novela, e correram com o senhor da presidência, uma semana depois de o terem eleito.
Não há nada de espantoso nesta história, nem sequer a «hipocrisia». Haider pertence a uma família política (e a uma tradição cultural) que sempre valorizou a força, a violência e a «vontade de poder». Não admira que quem faz política com essa bagagem acabe num culto exacerbado da «masculinidade» que naturalmente não pára à porta do quarto.
Susan Sontag, num famoso ensaio sobre o «fascinante fascismo», analisou com perspicácia as componentes homossexuais dos fascismos, sobretudo ligadas à parafernália bélica. Sabemos que alguns nazis famosos eram gays, caso de Ernst Röhm, líder das SA. E ninguém ignora o fascínio exercido pelos jovens soldados arianos em gente como Genet (um militante de esquerda) ou Tom of Finland.
Claro que os nazis perseguiram os homossexuais e que oficialmente os fascistas abominam a homossexualidade como «estilo de vida». Mas há um culto viril nas teorias fascistas que está a um passo da adoração do masculino. E adorar o masculino de modo assexuado parece difícil.
Agora que os tempos são mais abertos, aparece gente como Pim Fortuyn, assumidíssimo e promíscuo, e Haider, ambíguo e não muito cauteloso. Mas sempre conheci fascistas que convivem bem com a homossexualidade, desde que não se use essa palavra. Há uma personagem (ultraconservadora) de uma peça de Tony Kushner que explica: «I’m a heterosexual man who fucks around with guys».